Introdução
O azul de metileno é a solução para a Doença de Alzheimer? Não. Mas para uma doença ainda sem solução definitiva e única o azul de metileno é uma das melhores armas.
Neste artigo, iremos explorar a maneira como o azul de metileno pode beneficiar os pacientes com Alzheimer, destacando suas ações nas mitocôndrias, antioxidantes, anti-inflamatórias, bem como na modulação da tau e beta-amiloide. Além disso, vamos analisar a sinergia existente entre a fotobiomodulação e o azul de metileno, e de que forma essa combinação pode se revelar promissora.
O Que é o Azul de Metileno?
O azul de metileno, um composto sintético usado como corante biológico e agente terapêutico, desperta interesse científico devido ao seu potencial neuroprotetor, uma vez que possui capacidade mitocondrial tanto como doador quanto como aceitador de elétrons. Além disso, é considerado uma solução, ainda que auxiliar, para a Doença de Alzheimer.
Mecanismos de Ação do Azul de Metileno
Toda pessoa com Doença de Alzheimer tem disfunção das mitocôndrias. O azul de metileno é uma arma eficaz
A mitocôndria é, de fato, a principal fonte de energia das células do cérebro. No caso do Alzheimer, a falha mitocondrial se torna um evento inicial e crucial no desenvolvimento da doença. Várias pesquisas mostraram que o azul de metileno melhora a função mitocondrial de várias maneiras:
- Desvio do Complexo I e III: Para produzir energia, a mitocôndria usa quatro complexos, do I ao IV, para transmissão. No entanto, frequentemente a falha está nos primeiros complexos. O azul de metileno age como um mediador alternativo, permitindo a transferência direta de elétrons na cadeia respiratória das mitocôndrias para o último complexo. Isso ajuda a reduzir os radicais livres, diminuindo o estresse oxidativo. Além disso, acelera a produção de energia pelos neurônios.
- Estabilização da Membrana Mitocondrial: O azul de metileno, por outro lado, estabiliza a membrana mitocondrial, evitando dessa forma a liberação de citocromo c e a ativação do processo de morte celular programada. A integridade das mitocôndrias é essencial para a sobrevivência das células nervosas, especialmente em ambientes estressantes, como na Doença de Alzheimer.
Na Doença de Alzheimer, o Azul de Metileno protege os neurônios contra radicais livres
O estresse oxidativo, que é crucial na Doença de Alzheimer, resulta do desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes presentes nas células. Contudo, o azul de metileno possui efeitos antioxidantes fortes.
- Remoção de radicais livres: O azul de metileno reduz os radicais livres ao aceitar elétrons, assim formando leucometileno azul. Além disso, esse composto pode ser reciclado, protegendo as células por meio de um ciclo contínuo.
- Aumento de Enzimas Antioxidantes: De acordo com estudos, o azul de metileno pode aumentar expressão de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase (SOD) e catalase, fortalecendo as defesas antioxidantes dos neurônios contra radicais livres.
O Azul de Metileno ajuda a controlar a inflamação do cérebro com Doença de Alzheimer
A inflamação no cérebro é, de fato, um aspecto crucial da Doença de Alzheimer. Ela é desencadeada pela ativação das células inflamatórias cerebrais, conhecidas como microglia, e pela liberação de substâncias inflamatórias. O azul de metileno, por sua vez, regula essa resposta inflamatória na seguinte seaquência:
- Inibição da Ativação Microglial: O azul de metileno ajuda a reduzir a ativação das células de defesa no cérebro, diminuindo a produção de substâncias inflamatórias. Isso controla vias de comunicação importantes, como a NF-κB. Em resumo, esse composto pode ser benéfico desinflamar o cérebro.
- Redução da Neurotoxicidade: A inflamação é tóxica para os neurônios. O azul de metileno reduz danos aos neurônios causados pela inflamação.
Interferência na Patologia da Tau e Beta-Amiloide
As placas de beta-amiloide e os emaranhados neurofibrilares de tau são proteínas que se acumulam fora e dentro dos neurônios na Doença de Alzheimer, e são extremamente lesivas aos neurônios. Mas felizmente, o azul de metileno afeta diretamente essas proteínas prejudiciais.
- Inibição da Agregação da Tau: O azul de metileno interfere no processo de formação de emaranhados dessas proteínas nos neurônios. Experimentos feitos em laboratório mostram que o azul de metileno se conecta a partes específicas das proteínas, evitando que elas se agrupem.
- Quebra de Agregados de Proteínas beta-amilóides no Cérebro: O azul de metileno, além disso, é capaz de quebrar grupos de proteínas, conhecidos como oligômeros de beta-amiloide, contribuindo para a diminuição da toxicidade dessa proteína no cérebro.
Estudos e Eficácia do Azul de Metileno
Redução de Disfunção Cognitiva Pós-Operatória
O AM administrado durante a cirurgia reduziu significativamente a incidência de delírio pós-operatório e disfunção cognitiva precoce em pacientes idosos submetidos a cirurgias não cardíacas. 1
Melhora na Função Cognitiva em Doença de Alzheimer
Estudos em modelos animais de Alzheimer mostraram que o AM reduz os níveis de beta-amiloide (Aβ) e melhora os déficits de aprendizagem e memória, possivelmente através do aumento da atividade do proteassoma e da modulação da β-secretase. 2
Efeitos Neuroprotetores e Melhora Cognitiva em Hipoperfusão Cerebral Crônica
O azul de metileno demonstrou atenuar os déficits de aprendizagem e memória em modelos animais com hipoperfusão cerebral crônica, sugerindo benefícios para condições como comprometimento cognitivo leve e demência vascular.3
Efeitos de Melhoria Cognitiva
O azul de metileno melhora a atividade cerebral em tarefas de atenção e memória. Além disso, beneficia a recuperação da memória em seres humanos. Estudos de fMRI indicam que ele modula a conectividade de redes neurais, o que sugere potencial para aprimorar funções cognitivas. 4 5
Sinergia Entre Fotobiomodulação Cerebral e Azul de Metileno no Tratamento do Alzheimer
A terapia com luz infravermelha e o azul de metileno são tratamentos promissores para o Alzheimer, melhorando a saúde celular, reduzindo danos e inflamações, combatendo problemas específicos da doença. Estimulam as mitocôndrias de forma complementar: o azul de metileno atua nos complexos I a III, enquanto a fotobiomodulação age no complexo IV. O azul de metileno atinge todas as regiões cerebrais, enquanto a fotobiomodulação cerebral é mais eficaz no córtex, estimulando frequências alfa e gama. 6 7
Mecanismos de Ação da Fotobiomodulação (terapia com luz vermelha e infravermelha)
A Terapia Fotobiomodulação (FBM) atua principalmente pela interação da luz com com o complexo IV na cadeia mitocondrial. Essa interação pode resultar em:
- Aumento da Produção de ATP: A terapia com luz vermelha e infravermelha estimula a atividade do complexo IV, aumentando a produção de ATP. O aumento da energia celular é crucial para a manutenção das funções neuronais e para a sobrevivência em um ambiente neurodegenerativo.
- Redução do Estresse Oxidativo: A ativação do complexo IV pela FBM pode levar à redução dos radicais livres, diminuindo o estresse oxidativo. Além disso, a FBM pode aumentar a expressão de enzimas antioxidantes endógenas(produzidas pelo organismo).
- Modulação da Inflamação: A terapia com luz tem mostrado capacidade de reduzir a neuroinflamação ao modular a ativação microglial e a produção de citocinas inflamatórias. 8
Sinergia Potencial Entre Fotobiomodulação e Azul de Metileno
A combinação de FBM e AM pode oferecer benefícios adicionais através de mecanismos complementares:
- Aprimoramento da Função Mitocondrial: A fotobiomodulação cerebral aumenta a atividade do complexo IV. Além disso, o azul de metileno atua como um atalho para os complexos I e III. Com essa combinação, é possível otimizar a eficiência da cadeia respiratória mitocondrial. Isso resulta em um aumento na produção de energia e uma redução na produção de radicais livres.
- Redução Potenciada do Estresse Oxidativo: Ambas as terapias têm propriedades antioxidantes. A terapia com luz infravermelha cerebral aumenta a expressão de enzimas antioxidantes, enquanto o azul de metileno reduz diretamente os radicais livres. Essa abordagem dupla pode proporcionar uma proteção mais forte contra o estresse oxidativo.
- Modulação Sinérgica da Inflamação: A fotobiomodulação cerebral ajuda a reduzir a neuroinflamação ao controlar a ativação das células microgliais e a produção de citocinas inflamatórias. Além disso, o Azul de metileno potencializa esse efeito com sua ação anti-inflamatória. Portanto, a combinação dessas terapias pode resultar em uma modulação mais eficaz da resposta inflamatória.
- Interferência na Patologia da Tau e Beta-Amiloide: O azul de metileno afeta a agregação da tau e beta-amiloide. Por outro lado, a FBM pode ajudar a limpar essas proteínas ruins, aumentando a função mitocondrial e a autofagia. Dessa forma, ao combinar essas abordagens, é possível reduzir os emaranhados e placas no cérebro de forma mais eficaz.
Conclusão
O azul de metileno representa uma abordagem promissora para o tratamento do Alzheimer, sendo a combinação das vias parenteral (intravenosa) e oral mais eficaz. Sua combinação com a fotobiomodulação cerebral é bastante inovadora. Costumamos ver resultados bastante rápidos com essa combinação, com estabilização do humor e melhora da cognição.
É muito importante que o azul de metileno seja usado apenas mediante prescrição médica. Isso porque é contraindicado para pessoas com deficiência de glicose 6-P desidrogenase e por quem usa antidepressivos, além de se tornar pró-oxidante em doses muito elevadas. Nos casos em que o azul de metileno está contraindicado geralmente usamos substitutos mitocondriais parenterais como l-acetil-carnitina, PQQ, Coenzima Q10 e NADH, de forma individualizada.
Na nossa clínica de medicina integrativa, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, oferecemos terapias integrativas diversas como o azul de metileno e a fotobiomodulação cerebral, todas mediante intensa investigação médica com exames necessários e anamnese.
- Yixu Deng et al. “Methylene blue reduces incidence of early postoperative cognitive disorders in elderly patients undergoing major non-cardiac surgery: An open-label randomized controlled clinical trial..” Journal of clinical anesthesia, 68 (2020): 110108 . https://doi.org/10.1016/j.jclinane.2020.110108.
↩︎ - David X. Medina et al. “Methylene Blue Reduces Aβ Levels and Rescues Early Cognitive Deficit by Increasing Proteasome Activity.” Brain Pathology, 21 (2011). https://doi.org/10.1111/j.1750-3639.2010.00430.x.
↩︎ - A. Auchter et al. “Therapeutic benefits of methylene blue on cognitive impairment during chronic cerebral hypoperfusion..” Journal of Alzheimer’s disease : JAD, 42 Suppl 4 (2014): S525-35 . https://doi.org/10.3233/JAD-141527.
↩︎ - P. Rodriguez et al. “Multimodal Randomized Functional MR Imaging of the Effects of Methylene Blue in the Human Brain..” Radiology, 281 2 (2016): 516-526 . https://doi.org/10.1148/RADIOL.2016152893.
↩︎ - P. Rodriguez et al. “Methylene blue modulates functional connectivity in the human brain.” Brain Imaging and Behavior, 11 (2017): 640-648. https://doi.org/10.1007/s11682-016-9541-6. ↩︎
- M. Méndez et al. “Methylene blue and photobiomodulation recover cognitive impairment in hepatic encephalopathy through different effects on cytochrome c-oxidase.” Behavioural Brain Research, 403 (2021). https://doi.org/10.1016/j.bbr.2021.113164.
↩︎ - Luodan Yang et al. “Mitochondria as a target for neuroprotection: role of methylene blue and photobiomodulation.” Translational Neurodegeneration, 9 (2020). https://doi.org/10.1186/s40035-020-00197-z.
↩︎ - F. Cardoso et al. “Therapeutic Potential of Photobiomodulation In Alzheimer’s Disease: A Systematic Review..” Journal of lasers in medical sciences, 11 Suppl 1 (2020): S16-S22 . https://doi.org/10.34172/JLMS.2020.S3.
↩︎